quinta-feira, 17 de abril de 2014

Dejà vu




Tô aqui na livraria do CineEspaço. O ventilador bagunça meus cabelos, Silva toca baixinho nos meus fones de ouvido.
Entre uma estante de livros pocket e outra, eu lembro.
Já tinha esquecido disso! E agora, parece que foi ontem.
A gente marcou de encontrar aqui. Nem sei porquê, se não vimos filme nenhum. Você atrasou e mandou mensagem avisando.
Chegou enquanto eu me divertia lendo o "Caderno de Rabiscos para Adultos que Querem Chutar o Balde". 
Eu tava. Eu tava nervosa sim. Mas era um nervosismo bem baixinho, lá no fundinho, quase curiosidade. 
Você usava uma camisa xadrez linda. Chegou no seu passo gingado, captado pela minha visão lateral,  mas eu fingi nao ver. Esperei você chegar bem mais perto.
Eu lembro o seu perfume. 
Eu posso te ver entrar por essa porta de novo. É uma lembrança tão forte que confunde a realidade. Torna irreal o fato de você não estar aqui.  

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Poesia

"De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente"

(Extrato de 
Soneto da Separaçao - Vinicius de Moraes)

De repente, é a poesia.
Poesia, Vinicius!
Eu nunca gostei.
Mas ele gosta.

Fico aqui na ilusão 
de num verso qualquer por aí
encontrar a resposta
pra pergunta que eu nem sei qual é. 
Deve ter algum segredo
escondido nessas coisas
que ele sabe 
e eu não sei.
A impressão de poder diminuir a distancia
entre meu corpo e  meu coração. 

Poesia, Vinicius!
Eu nunca gostei
Nunca me conformei
com essas frases curtas
como quem corta as rosas
que ainda nem abriram.
Uma miragem
que desaparece quando a gente está quase lá.
Fazendo a vontade aumentar
e a falta,
a falta,
o vazio,
o vazio,
e o fim.

(Essa necessidade de pressupor o final
que faz a gente se perder
em compreensões equivocadas.
Das coisas  covardemente não ditas.)

Com ele é a mesma coisa, Vinicius.
Poesia,
só poesia.
Nada mais.
Rosa podada,
palavra pela metade,
miragem no horizonte.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Escaler

Eu quero
mas eu não consigo escrever
As palavras ficam presas na garganta
Os sentimentos fermentam no centro do meu peito
No meu estomago, ulcera.

É como estar bebado vendo o mundo girar
e ficar tentando para-lo.

Eu espero.

Uma musica toca baixinho.

Eu sinto.
Eu tento
mas eu não consigo escrever.

É como um filete de água
que cai no moinho
sem conseguir faze-lo girar.

Vou copiar o Scliar:

"Por tudo isso, não foi amor à primeira vista, essas coisas de cinema. O sentimento brotou aos poucos. Momentos: ela, distraida, olhando pela janela a chuva que caía; ela, cantarolando, arranjando flores num vaso; era chorando silenciosamente, saberia lá Max por qual motivo... Ternura primeiro, e logo, amor. "

(Max e os Felinos)