segunda-feira, 3 de novembro de 2014

carte d'or

Mas é  claro.
É claro que eu já tomei o pote de sorvete todo sozinha.
Sorvete que eu comprei ainda ontem, sem saber porque
vagando pelos corredores do supermercado
tentando achar qualquer coisa pra comprar.

É  claro que eu ja tomei o pote de sorvete todo sozinha.
Fingindo assistir filmes,
"Pra aliviar a gastrite".
Se colocar leite, vira milkshake.

É  claro que eu já tomei o pote de sorvete todo sozinha.
E chorei quando o congelador ficou vazio.


domingo, 24 de agosto de 2014

Blues do perdão

Uma vez um cara gravou um cd pra mim.
Um cd de blues. Era um presente pelo meu aniversário.
Na época eu fiquei com raiva, estava com o coração quebrado, fugi dele, nem sei o que fiz com o cd. Eram dois, na verdade.
Dia desses uma guitarra que ecoava, vindo do andar debaixo, do DA da faculdade, me fez  lembrar disso. E bateu uma gratidão pela ternura da ação.Um arrependimento pela reação.
Não sei o que deu desse cara.
Mas fica aqui meu mea culpa. Pra nao morrer sufocada pelas palavras que nunca disse.
Obrigada Felipe. Desculpa por tudo.



Update: Hoje tirando tudo do armário para empacotar, achei os bentidos. Tudo na vida podia ter segunda chance assim....

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Verde Cha

Eu tive um perfume que eu amava. Eu nem sei como esse perfume chegou até mim. Só lembro que eu me identificava com ele como nunca havia me identificado com um perfume antes. 

O meu vidro acabou. E  a marca parou de produzi-lo. 

Algum tempo depois minha mãe encontrou uma amostra grátis dele e me deu. 

Eu o guardei como se fosse ouro. Quase nunca o usei. Fiquei deixando ele lá, para usar em  momentos especiais que não vieram, pra guardar seu cheiro e poder senti-lo sempre que quisesse.

Hoje eu abri o vidrinho e o cheiro se foi. Só o que resta é uma agua cheirando a alcool. 

Me fez me arrepender por os dias que não o usei. Mesmo que fosse para ir à padaria.

Minha vontade de te-lo pra sempre me levou a nunca vive-lo. 

As coisas sao finitas. É preciso saber deixar ir. 


sábado, 9 de agosto de 2014

Animais...

As Aventuras de Pi , de Yann Martel.

CAPÍTULO 9

Fazer com que os animais se acostumem à presença dos seres  humanos é o próprio cerne da arte e da ciência da administração de um zoológico. O objetivo principal é reduzir a distância de fuga de um animal, ou seja, a distância mínima que ele admite manter quando avista um inimigo. Na vida selvagem, um flamingo não vai se importar com a sua presença se você permanecer a mais de 250 metros dele. Ultrapasse esse limite e a ave vai ficar tensa. Chegue um pouco mais perto e vai desencadear uma reação de fuga que só termina quando o limite dos 250 metros for restabelecido, ou até o coração e os pulmões do animal falharem. Cada bicho tem uma distância de fuga diferente e estas são medidas de forma diferente.(...)
Os meios de que dispomos para reduzir a distância de fuga são o conhecimento que temos de um animal, a comida e o abrigo que lhe proporcionamos, a proteção que lhe damos. Quando funciona, o resultado é um animal selvagem emocionalmente estável, sem estresse, que não apenas fica onde estiver tranquilamente, mas também é saudável, longevo, come sem criar problemas, se comporta e se relaciona socialmente de forma natural e — o melhor sinal de todos —  e reproduz. (...)

CAPÍTULO 10

Apesar de tudo, sempre haverá animais que tentam fugir dos zoológicos. O exemplo mais evidente é o daqueles que são mantidos em locais inadequados. Em termos de hábitat, todo animal tem necessidades específicas que precisam ser atendidas. Se bater sol demais onde ele vive, se o local for úmido demais ou excessivamente vazio, se o poleiro estiver alto demais ou muito exposto, se o solo for excessivamente
arenoso, se houver poucos ramos de árvores para ele fazer o seu ninho, se o comedouro estiver baixo demais, se não houver lama suficiente para ele se espojar — e vários outros se... —, o animal não vai ficar tranquilo. Não é tanto uma questão de construir uma imitação das condições da vida selvagem; trata-se antes de atingir a essência dessas condições. Ali, tudo deve estar na medida certa — em outras palavras,
respeitando os limites da capacidade que tem determinado animal de se adaptar. (...)
Animais selvagens capturados já em plena maturidade são mais um exemplo dos que tentam a fuga; em geral, têm os hábitos arraigados demais para poder reconstruir o seu mundo subjetivo e se adaptar a um novo ambiente.
Mas mesmo animais criados num zoológico, que nunca conheceram a vida na natureza; que estão perfeitamente adaptados ao seu local de moradia e não ficam tensos em presença de seres humanos, podem vivenciar momentos de excitação que os levarão a tentar escapar. Há em todas as coisas vivas uma dose de loucura que as leva a ter atitudes estranhas, por vezes inexplicáveis. Essa loucura pode ser uma forma de proteção; é parte integrante da capacidade de adaptação. Sem ela, nenhuma espécie sobreviveria.
Seja qual for o motivo desse desejo de escapar, seja ele são ou insano, os detratores dos zoológicos deveriam se dar conta que os animais não estão fugindo para algum lugar, mas sim de algo. Algo no interior do seu território que os amedrontou — a intrusão de um inimigo, o ataque de um animal dominante, um barulho assustador — e disparou uma reação de fuga. E eles fogem ou tentam fugir. (...) Os animais que fogem vão do conhecido para o desconhecido — e, se há algo que eles detestam mais que qualquer outra coisa, é o desconhecido. Em geral, os fugitivos se escondem no primeiro lugar que encontram e que lhes dê uma sensação de segurança, e só são perigosos para aqueles que porventura se intrometam entre eles e o tal lugar seguro que descobriram.

A "racionalidade" não nos mudou tanto assim....

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Dejà vu




Tô aqui na livraria do CineEspaço. O ventilador bagunça meus cabelos, Silva toca baixinho nos meus fones de ouvido.
Entre uma estante de livros pocket e outra, eu lembro.
Já tinha esquecido disso! E agora, parece que foi ontem.
A gente marcou de encontrar aqui. Nem sei porquê, se não vimos filme nenhum. Você atrasou e mandou mensagem avisando.
Chegou enquanto eu me divertia lendo o "Caderno de Rabiscos para Adultos que Querem Chutar o Balde". 
Eu tava. Eu tava nervosa sim. Mas era um nervosismo bem baixinho, lá no fundinho, quase curiosidade. 
Você usava uma camisa xadrez linda. Chegou no seu passo gingado, captado pela minha visão lateral,  mas eu fingi nao ver. Esperei você chegar bem mais perto.
Eu lembro o seu perfume. 
Eu posso te ver entrar por essa porta de novo. É uma lembrança tão forte que confunde a realidade. Torna irreal o fato de você não estar aqui.