Ele era um grande mentiroso.
As vezes, ele mesmo ria das próprias mentiras. Porque, em algumas delas, ele se esforçava de verdade pra acreditar. Algumas coisas ele realmente queria que simplesmente fossem como eram nas mentiras.
Ele ria tambem de nervoso, porque ele sabia que eu nao acreditava em nada daquilo.
Mas mesmo assim, a gente ria. Ria da vida, ria do momento tenso que vivíamos. Riamos das nossas intenções mal desfaçadas. Riamos das nossas resistências interiores - (não posso, não posso!). Riamos das nossas fraquezas. Riamos até dos nossos desejos opostos (não quero, não quero!).
Também brigávamos. Discutíamos por coisas sérias. Ele depois me pedia desculpa, eu fingia que ficava brava, mas depois eu ria - escondido, eu ria. Nos desentendíamos tambem por bobagens e ficávamos de cara feia um pro outro. Depois passava.
Tivemos nossas fases. A primeira foi a de trocar e-mails e deixar tudo sem fazer pra ficar batendo papo. De ficar vigiando o outro chegar - e eu nunca contei que ficava esperando ouvir o ronco da sua moto todo dia. Ele fazia meu coração desparar. Quando ele entrava na sala, e sentava do meu lado, eu mal conseguia olhar pra ele sem ficar vermelha. Depois fomos nos descobrindo e percebendo que eramos muito diferentes, e queríamos coisas diferentes , e mesmo quando queriamos a memsa coisa, tinhamos jeitos diferentes de lidar com isso. E aí, chegou a fase da impaciencia mutua, quando nao conseguimos aceitar a forma como o outro encarava a vida. E ai as brigas foram ficando mais intensas, as implicancias mais latentes, e até ficamos com raiva um do outro.
No começo foi aventura, inconsequência, coisa de menina, aquele gostinho de fazer coisa errada, aquela vertigem gostosa. Depois ei começei a me sentir sufocada e tudo nele me dava repulsa. Ele me quis, e isso, eu nao pude suportar. Não gostei de ser tirada na minha zona de invisibilidade.
Mas depois, mesmo com a raiva e mesmo com a impaciencia, foi que eu passei a me sentir bem perto dele. E a admiriar tudo o que ele fez por mim. Quando ele virou só um amigo.E essa fase foi gostosa também.
Mas depois, mesmo com a raiva e mesmo com a impaciencia, foi que eu passei a me sentir bem perto dele. E a admiriar tudo o que ele fez por mim. Quando ele virou só um amigo.E essa fase foi gostosa também.
Ele deu um gosto diferente àquele momento da minha vida. Hoje, quando eu masco um trident de canela - e trident de canela poderia me fazer lembrar de muitos caras - é dele que eu lembro.
E claro, sinto saudade.
E claro, sinto saudade.