Eu tenho muita dificuldade de relacionamento. Eu me canso rápido da pessoa, ou depois de um tempo, qualquer coisa passa a me irritar e eu logo sinto vontade de pular fora.
As vezes eu nem entro na relação. Quando eu páro pra pensar no trabalho que dá ter alguém. Trabalho psicológico mesmo. Pra cuidar, dar atenção, colocar a minha vontade de lado, ser compreensiva. Ser compreensiva é a coisa mais "custosa" do mundo.
E eu já passei tanto tempo sozinha, que a minha vontade impera muito. Eu detesto ter que abrir mão do que eu quero fazer. É, acho que a gente pode chamar isso de egoísmo. Eu não gosto de ter que me dividir com alguém. Isso raramente acontece. Eu posso me apaixonar por um cara, e ainda assim, não sair da minha bolha.
Porque é comodo. Porque é confortável. Porque eu odeio ter trabalho. Ainda mais com gente. Eu sou do tipo que vez ou outra percebo que as pessoas não fazem por mim o que eu faço por elas. Então, eu canso só de pensar em toda essa ingratidão que eu vou ter que lidar.
Dizem que ter um relacionamento é como ter um bicho de estimação.
Hoje eu cheguei em casa e não tive mais que esperar o gato sair do espaço da vaga pra entrar na garagem - o que de madrugada é bem perigoso. Também não tive que acionar o portão e sair correndo pra certificar se o gato não tinha saido pra rua. Passei pela vasilha de côco e nao tinha nada lá, nem a areia habitual. Não tive que me preocupar se ele fez xixi dentro de casa de manha. Não tive que me preocupar se ele dormiu em cima da minha cama. Nem se ele matou um passarinho e sujou as paredes de sangue. Nem vou mais ficar preocupada quando ele nao aparecer de manha e começar a imaginar as piores coisas. Nem ficar angustiada quando ele adoecer. Nem ter um sobressalto quando, à noite, ouvir barulhos estranhos do telhado.
(Na verdade sentir o cheiro do seu xixi pela casa me deixava feliz. Era a confirmação irrefutável de que realmente eramos uma familia com um gato!)
E ao pensar nisso tudo..... eu tive certeza absoluta que eu faria qualquer coisa pra abrir o portão e ainda dar de cara com aquele trapinho branco-sujo todo arrupiado, dormindo de cabeça pra cima. E ao passar por ele, ele abrir os olhinhos azuis, sonolento e mau humorado.
Talvez, algum dia, eu possa sentir isso por alguém. Alguém que faça todos os problemas parecerem pequenos, suportáveis, e em alguns casos, até bons!.
E que esse alguém goste de gatos.